Flor



Nunca beijei um poema,
como este aqui
roço-o suavemente
com os meus lábios,
nos momentos
mais dolorosos
dos
silêncios.
Deixo
nele uma flor,
para compartilhar
contigo.

Tradução: Fernando Oliveira, do original em espanhol, Flor de Norma Padra

Ressequido

Naquela velha fonte
onde lançavam lagartixas
queimadas pelo sol
sou sussurro de água
que sobe
para o vazio.
Um sussurro
e nada mais.
Corpo
húmido
que não sabe
quando mirrou.

Tradução: Fernando Oliveira, do original “Reseco” de Gregório Riveros

Ama-me!




Não deixes de o fazer antes que se acabe o mundo.
Eu estarei aqui, à tua espera entre os espinhos das rosas,
entre as urtigas que difundem as sementes ao vento,
entre os corações destroçados de amantes sonhadores
entre os mares sem sal e as lágrimas deliciosas.

Porque eu sou assim: espinho semente, coração, mar e lágrima.
Facetas que abrigam a minha saudade e me transformam num ser humano

(Só que eu gostaria de ter sido uma mata peregrina...)

Tradução: Fernando Oliveira, do original em espanhol, Ámame, de Inma Arrabal

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O vazio










Os meus sonhos são tão vazios
que cavalgo um vôo incorpóreo
para rogar a clemência das noites.

Entretanto chega a madrugada
sem ter alguém à minha espera.

Até a lua se ofusca para me arrastar
para um cenário de treva
mais longínquo do que a morte.

Cai gota a gota, uma chuva
que me desnuda a paixão com ais;
e o medo da inexistência perdura.

Tão tensa é a vertigem, que roço com os lábios
a beleza que se perde
na réplica da impalpável luz.

Tradução: Fernando Oliveira, do original “EL VACÍO” de Fernando Sabido Sánchez

http://fernando-sabido.blogspot.com/